sábado, 14 de maio de 2011

Resolução proíbe cirurgias estéticas em cães e gatos

Repassando notícia do site da Folha de S.Paulo

"O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) proibiu ontem, por meio de resolução publicada no "Diário Oficial" da União, o corte de orelha e retirada das cordas vocais de cachorros e a retirada de unhas dos gatos. A medida também torna não-recomendado o corte da cauda de cachorros.
Os procedimentos, até agora amplamente utilizados, serviam para aproximar o animal de um ideal de beleza. A conchectomia [corte da orelha] ecaudectomia [corte da cauda] são tradições que alguém criou por entender que os animais ficam mais bonitos nessa condição, mas temos que respeitar o direito deles", afirmou Benedito Fortes de Arruda, presidente do CFMV.
Segundo o texto publicado, "ficam proibidas as cirurgias consideradas desnecessárias ou que possam impedir a capacidade de expressão do comportamento natural da espécie, sendo permitidas apenas as cirurgias que atendam as indicações clínicas".
Uma das formas de expressão costumeiramente barrada por proprietários de cães é o latido, principalmente àqueles que moram em apartamento. Já o corte de orelha e da cauda de cães e a retiradas das unhas dos gatos é hábito freqüente nas clínicas.
Depois de cortar as orelhas de seu cão, o pit bull Zyon José, 3, o empresário Carlos Tirloni, 27, se arrependeu. Tirloni, de Santa Catarina, disse ter submetido o animal à cirurgia por uma questão estética, para que ele ficasse parecido com um pit bull". Depois da intervenção, porém, Zyon ficou "jururu", sangrando e sem vontade de comer.
Délio Mendes, criador da raça doberman em Brasília, se diz contra a resolução. Segundo ele, em competições da raça, têm vantagem os cães cujas orelhas são aparadas, seguindo a orientação de uma federação internacional. É para satisfazer o ego do dono? É, mas a vaidade tem benefício para o cachorro, que vai poder comer ração de boa qualidade pelo investimento que o dono faz nee", disse.
Em casos de necessidades clínicas, continua permitida a execução dos procedimentos citados. "Nessas situações, é necessária avaliação do veterinário. Pode ter algum caso que tenha necessidade de socorrer, como no caso de um acidente", afirmou Amilson Pereira Said, integrante do conselho. Criadora da raça schnauzer --em que normalmente se corta a cauda--, Cristiane Favaram disse ter ficado satisfeita com a resolução. "A maior parte das pessoas não visualizam o schnauzer com a cauda inteira. Depois que você convive com isso, passa a gostar", disse.
A resolução também regulamenta cirurgias em animais de porte maior, estabelecendo a obrigatoriedade de condições adequadas para operações, como anestesia e estrutura física da clínica. Os veterinários que não cumprirem as determinações do CFMV estão sujeitos a processo no conselho de ética e multa."

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u384132.shtml

domingo, 27 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA COM SONIA T. FELIPE

Até que ponto os zoos realmente ajudam os animais?
Sônia T. Felipe – Os zoos são centros de confinamento completo de animais. Só por essa sua característica podemos ver que não ajudam em nada os animais ali confinados. Não há animal que possa estar bem a seu próprio modo enclausurado num espaço artificialmente construído por humanos para detê-lo lá.

Eles realmente auxiliam na reprodução e preservação de espécies raras?

Sônia T. Felipe – O que os zoos fazem é procurar a reprodução biológica de espécies ameaçadas de extinção. Mas, quando falamos em preservar espécies não pensamos que uma espécie seja constituída apenas por sua bagagem genética. Cada espécie animal precisa de um espírito específico, que permita a preservação daquele tipo de vida de forma autônoma. Isso os zoos não podem fazer. No máximo, o que eles preservam, é o banco genético.

Ao serem mantidos no cativeiro por tempo muito longo, refiro-me aos indivíduos da primeira geração posta em confinamento, os animais apagam pouco a pouco a memória que constituía seu "espírito" específico. Se duas ou três gerações são mantidas nesse cativeiro, não resta conhecimento algum que permita aos jovens nascidos em confinamento saber interagir no espaço natural e social que seria próprio de sua espécie de vida.

Guardamos, assim, o patrimônio genético, que é matéria biológica. Matamos o patrimônio genuinamente "animal" dessas espécies. Temos apenas "organismos" destituídos de "mente" específica. Por esse motivo, reproduzir animais em zoos não garante que sua espécie de vida seja preservada. Insisto: manter um corpo funcionando não é tudo quando se trata da riqueza espiritual que cada espécie viva representa.

Quais são as consequências para o animal aprisionado em um ambiente que não se assemelha ao seu habitat natural?
Sônia T. Felipe - Se for mantido para o resto de sua vida nesse cativeiro, perderá sua alma. Se for solto depois de algum tempo num ambiente estranho, terá de refazer seu aprendizado para poder sobreviver. Se seus descendentes não tiverem a oportunidade de aprender com ele/ela a sobreviver com os recursos naturais e sociais próprios de sua espécie, de nada adiantará ter preservado apenas sua bagagem genética.

Ao contrário do que costuma ser afirmado ainda por muita gente, a mente dos animais, analogamente à nossa, se constitui na liberdade física que o animal exerce de mover-se para autoprover-se num ambiente onde os limites desse movimento não são impostos seguindo um padrão que interessa aos propósitos humanos. A inteligência dos animais confinados se esvai assim que eles não podem mais usá-la para se autoproverem e proverem os seus.


O debate sobre a questão ética envolvendo zoos está crescendo no Brasil?

Sônia T. Felipe - Acho sinceramente que sequer começou a ser feito com rigor. Os zoos são uma invenção dos invasores, especialmente os europeus, que sequestravam os animais das regiões onde impunham seu domínio tirânico para expô-los ao olhar dos curiosos nos grandes centros urbanos europeus. Hoje, esse costume está completamente superado, tanto do ponto de vista científico quanto ético. Nada aprendemos sobre a natureza de um animal quando o vemos por detrás de grades de ferro, isolado, infeliz e distante do ambiente que seria próprio ao seu caráter.

Com o avanço tecnológico e com o aprimoramento ético dos cientistas que estudam os animais, já não faz sentido algum tirar o animal de seu ambiente, colocá-lo em uma jaula e ficar observando seus gestos e atos. Nada disso faz sentido quando queremos saber algo da mente de um animal. Os melhores estudos animais são feitos in loco. Os maiores etólogos convivem por duas ou três décadas com os animais no ambiente natural e social deles, não nos ambientes humanos. Tudo o que se escreveu até hoje sobre os animais, com observação deles em jaulas, gaiolas e cercados não diz nada do que se passa na mente deles, diz-nos apenas o que se passa na mente bronca dos humanos que assim procedem.

Os zoos só fariam sentido, hoje, se transformados em hospitais de custódia para animais feridos ou ameaçados, que poderiam ser protegidos por tempo determinado, até que pudessem ser devolvidos ao seu ambiente natural. Mas, nesse caso, nenhum zoo deveria ser aberto à visitação pública, do mesmo modo que hospitais e unidades de tratamento intensivo humanos não são centros de exposição ou visitação públicas. Se temos curiosidade para saber como uma determinada espécie animal se move na natureza, melhor ver os filmes feitos por cientistas que abandonaram a vida nas cidades para dedicarem-se integralmente ao estudo da vida animal.

Filmes são hoje um substitutivo mais que eficiente para os zoos. É tempo de criarmos "zoos virtuais", usando as filmagens feitas por milhares de cientistas e cinegrafistas ao redor do planeta. Com essas filmagens podemos ver cada espécie, do modo como copula ao modo como nasce e morre, passando por todos os eventos que constituem sua vida propriamente dita.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

ECOLOGIA?

Ecologia:não, obrigado, ja escovei os dentes.
por Marcio Bueno

Gostaria que não fosse assim, mas há uma cisão aparentemente irremediável entre o movimento ambientalista e os defensores dos direitos animais. Quem olha de fora até imagina que se anda de braços dados, caminhando e cantando e seguindo a canção, mas a verdade é que há uma eterna rota de colisão.

Para quem é antiespecista, aceitar a pecuária mas elaborar projetos para salvar o ‘bibibó-do-bico-amarelo’ é contrassenso. Milhares de animais mortos no dia a dia, ok. Não se preocupar com alguns espécimes de determinada área, errado.

Mas não foi o desmatamento que eliminou as moradias dos animais silvestres? Então eu procuro um ecologista que não coma carne ou laticínios, ou não fume. Geralmente é o pacote completo, e com orgulho. Mas os espaços para o gado, ou para a soja – que não é plantada para alimentar vegetarianos, para o fumo, já guardaram animais e plantas que, hoje, viraram fetiche para o bom ambientalista. Entretanto, e aí discurso e prática dão seta para dobrar esquinas diferentes, essa repetição do dia a dia traz resultados e exigências do agronegócio que contradizem a ideologia dos amigos da natureza. Cada tragada na chupeta do diabo, digo, no cigarro, são moedas que tilintam no saldo bancário de uma indústria que planeja mais área plantada para atender ‘o mercado’. Nessa hora, passa-se procuração para que locais onde antes ainda dava para animais se virararem nos 30 sejam patrimônio lavrado pelo agronegócio – tão odiado pelos eco-whatever.

Cada bife, ovo frito ou copo de leite geladinho veio de uma linha de montagem que começou, lá na ponta, com uma motosserra sendo ligada. Poderia ser diferente, se o consumidor ‘consciente’ abrisse mão dos hábitos que mamãe ensinou, e que a pressão do grupo lhe obriga a não sair do esquema já conhecido. Se detesta a destruição da Amazônia, a bancada ruralista, o agrobusiness, o aquecimento global e o imperialismo, que reveja o que recheia o prato.

Já ouvi um doutor em Ecologia dizer que a pecuária é necessária para a preservação da natureza. Sem rubor nas faces.

A dor dos animais não importa, a submissão durante toda a vida, a extração à força de ingredientes culinários, se isso passar por um funcionamento ecologicamente/ideologicamente correto, manejo adequado, que obviamente só poderia ser feito pela pureza de um camponês idealizado. Mas, rico ou pobre, o produtor apenas está acostumado a fazer render cada animal sob sua posse. Isso não muda muito para quem é escravo porque é de outra espécie.

Então se a ideia é não financiar o sistema vigente, que vem patrolando pandas, baleias, Mata Atlântica e Amazônia há séculos, porque já se pensou e debateu à exaustão essas questões, é cômodo ter surdez seletiva. Não escutar as máquinas que picotam a natureza para oferecer, vejam só, prato-feito-tipo-Jesus-me-chama e depois um cigarrinho para amenizar o tédio abissal da vida. São esquinas diferentes sendo dobradas.