quarta-feira, 22 de outubro de 2008

abate humanitário?

NUM CONTEXTO DE LUCRO, POUCA IMPORTA A VIDA DE SERES QUE NÃO TÊM COMO MUDAR SEU DESTINO
Como interessada na questão do chamado "abate humanitário" a ponto de realizar um documentário sobre o assunto, venho manifestar-me sobre a reportagem intitulada Frigoríficos serão treinados para fazer "abate humanitário", publicada na edição desta quarta-feira, 22/10, em O Estado de São Paulo.
Há aspectos importantes a considerar.
Um refere-se à efetividade, para os animais, das medidas anunciadas como de "bem-estar". O chamado "abate humanitário" pode ser conhecido no documentário, que mostra um frigorífico-modelo brasileiro. A diferença para o abate tradicional é que o boi, ao invés de levar marretadas na cabeça, recebe um tiro de pistola pneumática com o propósito, nem sempre bem-sucedido, de insensibilizá-lo antes do sangramento, esquartejamento, evisceração, retirada do couro. As medidas promovidas pelas instituições citadas na reportagem pretendem dar condições menos cruéis aos animais antes da prática de todas as torturas mencionadas acima. Mesmo que isto pudesse ser considerado um benefício para os animais, supor que haverá fiscalização efetiva destes procedimentos é pura ficção, lembrando que grande parte da carne consumida no país provém de abatedouros clandestinos.
O aspecto mais importante, se visto com olhos realistas, é o assassinato em massa de seres indefesos, que são criados artificial e especificamente para serem mortos. Os interessados, aproveitando-se da nefasta visão antropocêntrica vigente, querem perpetuar a exploração dos animais, privando-os impunemente de seu direito mais básico, o de viver. Que direito temos de decidir quem vai viver ou morrer?
Bovinos, suínos, peixes, aves e muitos outros animais são seres sencientes, ou seja, capazes de ter sensações e de saber o que está acontecendo com eles. Isto pode ser constatado nos matadouros pelos sinais de pânico dos animais, como a midríase (dilatação das pupilas) e o aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. No mais, o evidente desespero dos animais no "corredor da morte", quando recuam percebendo o que está por lhes acontecer, atesta seu sofrimento e sua percepção do que os espera. Porque os matadouros não são abertos à visitação pública?
Ainda há outros aspectos, desconsiderados por tais medidas, que atingem de forma destrutiva não só aos animais, mas a todos os seres do planeta: a destruição da camada de ozônio, a contaminação de rios e aqüiferos subterrâneos provocada pelos dejetos e drogas aplicadas nos bilhões de animais criados, a destinação da gigantesca produção de grãos para alimentar animais e não a população humana que passa fome, além da destruição de florestas, citada em matéria nesta mesma edição do jornal O Estado de São Paulo, intitulada Sudeste consome carne originária de área desmatada.
As medidas de "bem-estar" animal revelam o verdadeiro interesse de quem as promove: o aumento do consumo de carne e dos lucros. Não há nenhuma preocupação "humanitária" com a vida dos animais neste pacto de morte.
Nina Rosa JacobSão Paulo/SP

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